EDITORIAL
Você já se perguntou por que, apesar dos avanços médicos e tecnológicos, ainda estamos longe de sermos uma sociedade verdadeiramente saudável? Por que novas doenças continuam a surgir, enquanto doenças crônicas mantêm milhões de pessoas dependentes de tratamentos prolongados? Estaríamos presos em um ciclo em que ser saudável não é, de fato, interessante para o mercado de saúde global?
Nosso atual modelo de saúde é amplamente baseado no tratamento de doenças, e não na sua prevenção ou cura. Esse modelo, muitas vezes chamado de “medicina da doença”, parece focar mais em prolongar tratamentos do que em soluções definitivas. A "trilogia" composta por hospitais, médicos e laboratórios é parte de um sistema que, propositalmente ou não, parece priorizar o lucro contínuo em detrimento da saúde a longo prazo. Se as pessoas fossem verdadeiramente saudáveis, como ficariam as finanças da indústria farmacêutica e de seus seguidores?
O tratamento contínuo é uma das principais fontes de lucro no setor de saúde. A manutenção de pacientes crônicos, que requerem consultas regulares, exames frequentes e medicamentos de uso prolongado, garante uma receita estável para hospitais, médicos e farmacêuticas. Enquanto isso, a prevenção e a promoção ativa da saúde são frequentemente subestimadas. Não é incomum que medicamentos para doenças crônicas (como hipertensão, diabetes e colesterol) sejam priorizados em pesquisas, enquanto investimentos em curas definitivas recebem menos atenção.
A lógica das patentes farmacêuticas também reforça esse ciclo, pois incentiva a criação de medicamentos que podem ser vendidos continuamente. Em vez de buscar soluções que eliminem as doenças, o mercado se concentra em tratamentos que geram dependência prolongada. Mas não seria esse um conflito de interesses em um sistema que deveria ter como prioridade a saúde das pessoas?
A influência da indústria farmacêutica vai além dos laboratórios e atinge diretamente o consultório médico. Muitos profissionais da saúde são incentivados, de diversas maneiras, a prescrever determinados medicamentos ou a encaminhar pacientes para exames específicos, independentemente da necessidade real. Isso levanta a pergunta: as recomendações médicas são sempre feitas com base na saúde do paciente, ou há um fator financeiro em jogo?
É preciso considerar, ainda, que os próprios pacientes são condicionados a acreditar que precisam de tratamentos contínuos e consultas frequentes para manter sua saúde. Enquanto isso, soluções mais baratas e naturais, como mudanças de hábitos alimentares, exercícios físicos e práticas preventivas, raramente recebem o destaque merecido. Será que o sistema está interessado em promover uma vida verdadeiramente saudável, ou em criar uma dependência médica de longo prazo?
Aqueles que mais sofrem com esse sistema são os próprios pacientes, muitas vezes presos em um ciclo de consultas, exames e tratamentos sem encontrar uma solução efetiva ou definitiva para suas condições de saúde. A consequência disso não é apenas financeira, mas também emocional e física. Não é à toa que o modelo atual tem sido criticado por priorizar a gestão da doença em vez da promoção da saúde.
Entretanto, nem todos os profissionais e instituições de saúde estão alinhados a essa lógica de mercado. Muitos médicos, pesquisadores e organizações buscam, de fato, promover uma medicina mais preventiva e curativa. Mas, para que haja uma mudança estrutural no sistema, será necessário um esforço maior na educação, no acesso à saúde de qualidade e na promoção de hábitos saudáveis. Somente com esse compromisso poderemos romper o ciclo atual e construir um modelo de saúde mais sustentável e justo.
Assim, é necessário questionar: estamos vivendo uma “epidemia de tratamentos”, onde o foco está em prolongar o problema ao invés de resolvê-lo? A cura completa realmente não interessa ao mercado? E, finalmente, como podemos reverter esse ciclo em um sistema tão lucrativo quanto o da saúde?
A resposta pode não ser simples, mas passa por um maior investimento em políticas públicas de prevenção, pela promoção de uma educação voltada para a saúde e pelo fortalecimento de uma consciência coletiva sobre a necessidade de um modelo de saúde mais humano, que coloque o bem-estar das pessoas acima dos interesses financeiros.
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